biografia
Ibicoara… este pedacinho do paraíso, um dos últimos bastiões – quase intocado – da Chapada Diamantina, aqui me criei, joguei muita capoeira ao som do berimbau no grupo Molejo Negro e Viva Conquista com nossa arte afro-brasileira levamos educação e história aos diversos rincões da cidade; na condição de espectadora vi toda a beleza estética dos Reisados, como o Pedra Branca, Estrela de Maria, lá do Brejão, de Dingo, do Vale do Paraíso, mas o meu predileto é o Estrela do Divino, incrível como a simplicidade da flauta com o “agudo no talo” acompanhado da percussão e cânticos, também pegados nas agudas, fazem verdadeiros milagres, é mágico, é encantador.
Este universo místico, sempre me atraiu, na verdade acredito que é a natureza onipresente, é em tal poder que nossos ancestrais africanos, escravizados, que para não morrerem de banzo, tinham como mantra rememorar quem eram, o sincretismo religioso e a sua mistura com a religião do europeu foi um artifício para seguirmos cultuando as nossas origens, lembra da capoeira que pratico né?! Outra arte que precisou ser camaleônica para resistir, uma vez que os escravizados eram proibidos de praticar qualquer tipo de luta, assim usamos a música como um disfarce para aparentar uma dança.
Até aqui, em busca da sintonia com a Mãe, a Natureza, e toda feminilidade expandida nas águas das cachoeiras ibicoarenses, em alguns casos, pela distância, tal meta, viram verdadeiras penitências de uma promessa e ao chegar no destino, como na composição “Agradecer e Abraçar” de Gerônimo / Vevé Calazans, “nada pedi” e “só agradeci”, tal como, nas Festas de São Bento e Reisado, tão presentes em minha vida.
Por tal caminhada, de admiração ao sagrado e as nossas raízes – ainda no campo do sagrado – realizei a minha primeira incursão cine documental, em 2018, com o título: “NA BATALHA DE OGUM, SÓ QUEM PODE É DEUS!” que deu voz, principalmente, aos sacerdotes das religiões de matrizes africanas: Seu Manoel e Nailson Sança, no povoado de Santo Antônio, Ibicoara, praticantes do Jarê, manifestação única, exclusiva da Chapada Diamantina, notadamente entre os descendentes de africanos; é lindo como percebemos no vídeo que os entrevistados apesar de serem tão atacados pelo racismo e suas diversas nuances, como a religiosa, e tal como Jesus, perdoam. Compreendem que o preconceito é resultado da falta de conhecimento/educação.
Em seguida, fui selecionada e participei do Curso de Audiovisual ELA – Projeto Escola Livre Audiovisual da Chapada Diamantina, via Programa Aldir Blanc, modalidade Curso de curta duração, no período de 01/02/2021 a 15/04/2021, coordenado pelo prof.º Vinícius Navarro Morende, do Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias, campus XXIII/Seabra, com carga horária de 160, que resultou no roteiro: RAIZ DE MANDIOCA, que narra os dotes culinários, e sim culturais, de Maria Aparecida, popularmente conhecida como Dona Cida, uma agricultora que cultiva mandioca e aipim em Ibicoara, e como os seus feitos culinários e sua vida evoluíram depois da capacitação para produção de receitas a base de aipim e mandioca, com a qual, tradicionalmente, se faz farinha e tapioca para vender.
Cida descobriu que com o aipim ela pode fazer sorvete, pudim e pão, novidades para ela e para cidade. A culinária sempre foi um hobby, mas com os novos aprendizados, este passatempo transformou-se num trampolim para melhoria da sua vida as raízes mudaram a sua vida, apesar dos obstáculos que as pessoas com menor poder aquisitivo têm em relação ao trabalho: a falta da valorização com uma má renumeração e, normalmente, muita esforço físico, contudo, Dona Cida tem orgulho dos novos conhecimentos e da sua renda extra com a comercialização dos produtos, cujo carro chefe é o sorvete de aipim.
Acredito que tais experiências como as do Reisados, uma representação do nascimento de Jesus, peregrinos, que caminhavam pra levar a boa nova, me fez enveredar para ações sociais que atendiam os adultos do amanhã, como fizemos em 2018, partindo do Canta Galo, passando pelo Jiquí e seguindo até placa de Iramaia, são sorrisos que guardo na memória, essenciais para o conjunto de estímulos para levantar e praticar o bem.
O norte de um artista é o público, desde quando me entendo por, no começo, como um pedacinho de gente, criança mesmo, fui a espectadora número um desde os Reisados de Ibicoara, as rodas de fogueira, o samba improvisado de levantar poeira no terreiro, da capoeira. Ser espectador também é um ato artístico, a atenção tão cobiçada pelas redes sociais é um bem valioso, sobretudo a atenção ao que não é virtual, assim iniciei minhas ações para transformar a realidade das minhas fontes de inspiração artística, com pé no chão e muita atenção ao amigo ou amiga que no dia a dia era meu vizinho, mas que no seu momento de lazer virava um ser espetacular que faz meus olhos brilharem.
Outra atenção que edifica a realidade dos meus próximos é em qualquer oportunidade de levar alegria, brincadeiras, pintura facial e ser nutrida com o carinho das crianças estou colada. Vira e mexe, sou convocada. Já fui palhaça, joguei capoeira, ouvi histórias e muitas vezes… um abraço, um cheiro, um cafuné… alegrava o dia de uma criança.
Já na produção audiovisual, é notório que no documentário “NA BATALHA DE OGUM, SÓ QUEM PODE É DEUS!” ao eternizar na história, as vidas e as práticas culturais dos guias espirituais, que cultuam religiões de matriz africana, mas com toda particularidade da nossa Chapada manifestada no Jarê, com todo o poder griot (símbolo da oralidade africana) e estética registrada em vídeo é uma herança para os que virão, mas sobretudo, perceber que estas pessoas tão requisitadas para orientar caminhos de cura e paz espiritual têm muita necessidade de serem ouvidas, compreendidas… é uma massagem no ego, um estímulo para a altivez.
Na mesma linha, com Dona Cida e seus dotes culinários produzimos, inicialmente, um roteiro para documentar a vida da agricultora familiar de Ibicoara que transformou seus dotes culinários em fonte de renda, via capacitação, trata-se de uma narrativa que demonstra o poder transformador da educação, neste caso culinária, uma chave para novas possibilidades e redução do trabalho braçal no plantio, colheita e benfeitoria da mandioca e aipim. Ela já se sentiu especial e notada com todo o trabalho que resultou no roteiro do documentário RAIZ DE MANDIOCA, selecionado no Curso de Audiovisual ELA – Projeto Escola Livre Audiovisual da Chapada Diamantina, via Programa Aldir Blanc, modalidade Curso de curta, que está prontinho para ser filmado e inspirar outros agentes de melhoria social a ofertar conhecimento para outras “Donas Cidas” encontrarem caminhos de menor esforço físico e agregado com o que adoram fazer para elevar a renda (individual/familiar) e proporcionar melhor qualidade de vida e autoestima.
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